Tuesday, March 14, 2006

A arte e sua mediação na cultura contemporanêa

Este é o título de um texto, de Mônica Zelinski, que discute o papel do crítico de de arte na atualidade. Parte do pressuposto que entende o crítico como um mediador cultural, e questiona tanto a maneira em que ocorre e a quem serve hoje.
O crítico de arte, durante século XVIII, quando a apareceu, servia então de amparo para que o publico que visitava os salões pudesse selecionar as obras. Já naquela época, como afirma a autora, podemos dizer que havia uma certa clientela que buscava um profissional capacitado que pudesse então defender ou recusar obras e artistas. Ou seja, desde o seu surgimento, a crítica de arte tem servido como guia para o mercado de das artes. Assim como as exposições, o que as tornou indissociavéis na promoção das artes, tornando-as o principal contato entre a produção artística e seu público.
Vale dizer que, a critica de arte pode e deveria, como mediadora destes dois pólos, estabelecer conexões entre a produção artística, a proposta particular de cada artista e a sociedade em qual está inserido, gerando assim, caminhos para que o público possa assimilar essas propostas, aceitam-as ou rejeitando-as.
Acontece que, a crítica de arte tomou caminhos muito mais publicitários do que mediadores. No que os artistas contemporâneos gostam de chamar de pós-modernidade, as pessoas estão cada vez mais dependentes da mídia, e esta se vale da "crítica" para seduzir o público, ou seja, a nós, e determinar ( ao invés de mediar) o que devemos ou não entender como arte. Tudo isso, baseado no poder institucional que é muito mais movido por interesses econômicos do que realmente artisticos. Ou seja, o crítico virou marketeiro.
Mônica levanta uma questão interessante, que é a artes transformada em seitas. "Ao invés de cultura, temos cultos", comenta ela, valendo-se do discurso de Hal Foster. E assim vemos claramente a arte servindo como um Aparelho Ideológico do Estado. O público é seduzido por textos bem redigidos, porém pouco críticos, onde prevalece a mostra, ao invés da obra, como podemos perceber claramente na Bienais.
Cabe ao verdadeiro crítico, estimular o público a formar seu prório juízo crítico com relação à obras e artistas, proporcionado para tanto, as informações necessárias, sem guiá-lo ideologicamente. Isso é mediação, isso é promoção cultural. E precisamos de promoção cultural, mas não no sentido mercadológico do termo, pois esse acaba com toda a grandiosidade da arte, que encontra-se, principalmente, na diversidade.

Friday, March 10, 2006

Sutilezas de um diretor


Que O Poderoso Chefão é uma trilogia espetacular não há discussão. São três filmes brilhantes que nos deixam sem saber qual deles escolher, então ficamos com as particularidades de cada um. Roteiro, direção, elenco, fotografia...tudo é muito bem articulado, e se a idéia fosse divagar sobre a trilogia teriamos um texto imenso. O que eu quero comentar com vocês é apenas uma cena.
Para mim, inicialmente, tinha passado despercebida, pois é muito sutil. Porém, acho que ela acaba sendo determinante no filme. Justamente por ser sutil, prova a que Coppola sabe muito bem o faz.
Contextualizando, a cena ocorre um pouco depois que Don Corleone ( Marlon Brando) é baleado. Até então, nosso querido Michel Corleone ( Al Pacino), mostra-se totalmente alheio e desinteressado no que diz respeito aos negócios da família. Quando o pai fica entre a vida e a morte depois de um atentado, ele se aproxima da famíla ( assim como deve fazer um bom italiano), mas são relegadas a ele apenas pequenas tarefas e sua opinião não é solicitada quando se está decidindo como resolver os problemas que se apresentam. De repente, em um determinado momento, ele aparece com a solução.
Aí entra o que estou querendo comentar, o feeling desse grande diretor. Michel Corleone explica seu plano para acabar com o inimigo, sentado em uma poltrona, com as pernas cruzadas e uma postura que, definitivamente, nos apresenta o novo chefe da família. É algo que a gente só entende vendo, mas é o primeiro momento em que ele demonstra, com uma linguagem corpora inconfundivel, a que veio. Somente um grande diretor para se fazer valer desta sutileza para dar o tom em que o filme vai seguir dali pra frente.
Bom meus caros, pra mim, um momento raro de completa harmonia entre atuação e direção.

Thursday, March 02, 2006

Produção artística cabo-verdiana

Pra começar nossa conversa, recebi esta semana o relatório da pesquisa de pós-doutorado do Prof. Dr. Pedro Martins, que anda lá por Portugal dando andamento a sua pesquisa. Ele me deu a feliz oportunidade de escrever algumas considerações a respeito do seu trabalho. Na verdade, não me sinto capaz de avaliar, o que pretendo fazer é comentar o que achei a respeito do pouco que sei sobre a pesquisa, pois esse relatório foi meu primeiro contato com ela, e sua relevância para o nosso centro.
O relatório demonstra que estamos diante de um trabalho muito bem fundamentado teoricamente. Mesmo quem ainda não havia se deparado com nenhuma das questões nele apontadas, consegue percorrer o caminho proposto pelo autor de maneira muito clara e bastante informativa. a questão histórica, que dá suportes ao entendimento das questões antropológicas que pretendem ser abordadas pela pesquisa é tão interessante que nos faz sentir vontade de conhecer melhor a história deste país que, de certa forma, foi determinante na construção histórica de nossa cultura.
Entender, de maneira efetiva os processos socias portugueses, principalmente no que diz respeito à estrutura da sua longa monarquia e seus processos de expansão maritíma, bem como suas relações com as colonias e os povos delas oriundos, pode exclarecer numerosas questões a respeito de nossas próprias raízes. Além disso, poder comparar questões pertinentes ás minorias étinicas de nosso país com processos semelhantes ocorridos em Portugal tende a nos trazer esclarecimentos importantíssimos a respeito de nosso país, principalmente por, de certa forma, sermos parte da mesma história. O recorte para as práticas musicais de imigrantes cabo-verdianos torna essa ligação ainda mais forte, devido à atuação dos portugueses em Cabo-Verde durante a expansão marítima.
Torno a dizer que a pesquisa demosntra estar teoriamente muito bem fundamentada e a caminho de um importante estudo empírico. E, ao contrário do que alguns podem dizer, é uma pesquisa social de grande relevância para as artes, principalmente se levarmos em consideração o fato paro o qual nos atenta Franz em seu atual projeto de pesquisa, que na arte-educação pós -moderna, obras de arte são compreendidas como práticas sociais e culturais, muito mais do que como objetos belos, produtos de mentes individuais.
Nunca é demais lembrar que estamos em um Centro de Artes, onde muita gente ainda busca uma formação consistente. Principalmente para os que pretendem, mais do que ser chamados de artistas, estar bem preparados para despertar a compreensão crítica nos meninos e meninas que guiarão pelo caminho das artes. E como despertar essa compreensão, se os próprios não tiverem feito esse caminho anteriormente?
(aqui caberia uma nota de rodapé, mas esse formato de texto não permite, portanto, segue o esclarecimento. Citei anteriormente a Prof. Dra. Teresinha Sueli Franz, em sua mais recente pesquisa, ainda não publicada, A educação para a compreensão crítica da arte no ensino fundamental).