Thursday, February 28, 2008

Retalhos de Guerra

Então, entre libações e batalhas, amanheceu novamente.
Com o olhar fixo à morada dos numes anseio:
Faustos deuses hão de me fazer vencer a guerra que meus olhos travam em ti.
Por enquanto, apenas tuas lancetadas atingem alvo certo.
Nem bigas, nem gládios, ou mesmo o argênteo arco do grã-frecheiro me valem agora.
Assim, deixo-me ficar, a carpir-me pesarosa ante a espumante beira,
pois a cada amanhecer, mais te apeteço e mais te anelo
rogando à Dial Ciprina que me apazigue o peito e me autorgue a glória
de seguir contigo e ser-te o prêmio, té que envelheça em teu pálacio,
a urdir-te teias e a compor teu leito.

Wednesday, February 27, 2008

Cultura Inútil I

A lei de Murphy...

Não adianta. Todo mundo fala dela, ninguém foge dela.
Mas qual é exatamente a Lei de Murphy?

Existem várias. A primeira e mais importante, que deu origem a todas as outras foi:

  1. Se há duas ou mais formas de fazer alguma coisa e uma das formas resultar em catástrofe, então alguém a fará.
Aí vem outras..selecionei as que já comprovei, ou que conheço alguém que o fez.

Algumas das Leis de Murphy, que acho nem são dele, mas tudo bem. Se você está com tempo sobrando, vá em frente. Leia e vai me dar razão.

3. Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação do manual.

4. Tudo leva mais tempo do que todo o tempo que você tem disponível.

6. Se você perceber que uma coisa pode dar errada de 4 maneiras e conseguir driblá-las, uma quinta surgirá do nada.

7. Seja qual for o resultado, haverá sempre alguém para: a) interpretá-lo mal. b) falsificá-lo. c) dizer que já tinha previsto tudo em seu último relatório.

8. Quando um trabalho é mal feito, qualquer tentativa de melhorá-lo piora.

9. Acontecimentos infelizes sempre ocorrem em série.

10. Toda vez que se menciona alguma coisa: se é bom, acaba; se é mau, acontece.

12. As peças que exigem maior manutenção ficarão no local mais inacessível do aparelho.

13. Se você tem alguma coisa há muito tempo, pode jogar fora. Se você joga fora alguma coisa que tem há muito tempo, vai precisar dela logo, logo.

14. O modo mais rápido de se encontrar uma coisa é procurar outra. Você sempre encontra aquilo que não está procurando.

15. Quando te ligam: a) se você tem caneta não tem papel. b) se tem papel não tem caneta. c) se tem ambos ninguém liga.

20. Qualquer esforço para se agarrar um objeto em queda provocará mais destruição do que se deixássemos o objeto cair naturalmente.

26. Se você for esperar o motivo certo para fazer alguma coisa, nunca fará nada.

27. Os assuntos mais simples são aqueles sobre os quais você não entende nada.

29. Se você é capaz de distinguir entre o bom e o mau conselho, você não precisa de conselho.

34. A informação que obriga a uma mudança radical no projeto sempre chega ao projetista depois do trabalho terminado, executado e funcionando maravilhosamente (também conhecida como síndrome do: "Caramba! Mas só agora!!!").

37. Nada é impossível para quem não tem que fazer o trabalho.

38. Ciência exata é profetizar sobre o que já aconteceu.

39. Se há um trabalho difícil de ser feito, entregue-o a um preguiçoso. Ele descobrirá a maneira mais fácil de fazê-lo.

40. Quando se tem muito tempo para começar um trabalho, o primeiro esforço é mínimo. Quando o tempo se reduz a zero, o esforço beira as raias do infinito.

41. Nada jamais é executado dentro do prazo ou do orçamento.

42. As variáveis variam menos que as constantes.

43. Não é possível alcançar o total exato de qualquer soma com mais de dez parcelas depois das cinco horas da tarde de sexta-feira. O total exato será encontrado facilmente as 9:01 da manhã de segunda-feira.

44. Entregas de caminhão que normalmente levam um dia levarão cinco quando você depender da entrega.

46. Assim que tiver esgotado todas as suas possibilidades e confessado seu fracasso, haverá uma solução simples e óbvia, claramente visível a qualquer outro idiota.

53. Guia prático para a ciência moderna: a) Se se mexe, pertence à biologia. b) Se fede, pertence à química. c) Se não funciona, pertence à física. d) Se ninguém entende, é matemática. e) Se não faz sentido, é economia ou psicologia. f) Se for um Caos total certamente é informática!

56. Ninguém nunca está ouvindo, até você cometer um erro.

59. Oitenta por cento do exame final da sua prova da faculdade será baseada na única aula que você perdeu, baseada no único livro que você não leu.

60. Cada professor parte do pressuposto de que você não tem mais o que fazer, senão estudar a matéria dele.

61. A citação mais valiosa para a sua redação será aquela em que você não consegue lembrar o nome do autor.

71. Uma gravata limpa sempre atrai a sopa do dia.

72. Se está escrito "Tamanho único", é porque não serve em ninguém.

73. Se o sapato serve, é feio!

74. Nunca há horas suficientes em um dia, mas sempre há muitos dias antes do sábado.

75. Todo corpo mergulhado numa banheira faz tocar o telefone.

76. A informação mais necessária é sempre a menos disponível.

77. A probabilidade do pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é proporcional ao valor do carpete.

79. A fila do lado sempre anda mais rápido, até o momento em que você se mudar para ela. Então, a fila em que você estava vai andar mais rápido.

80. As coisas podem piorar, você é que não tem imaginação.

81. O material é danificado segundo a proporção direta do seu valor.

85. Existem dois tipos de esparadrapo: o que não gruda, e o que não sai.

86. Uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada.

88. Por que será que números errados nunca estão ocupados?

92. Lei de Murphy na escola: se for prova com consulta, você esquecerá seu livro; se for lição de casa, esquecerá onde mora.

93. Amigos vêm e se vão, inimigos se acumulam.

94. A Lei de Murphy é algo transcendente. Lavar o seu carro para fazer com que chova não funciona.

95. Um documento importante irá demonstrar sua importância quando, espontaneamente, ele se mover do lugar que você o deixou para o lugar onde você não irá encontrá-lo.

97. Uma maneira de se parar um cavalo de corrida é apostar nele.

Friday, February 22, 2008

O que será (a flor da pele)

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O que será que me dá que me bole por dentro
Será que me dá
Que brota a flor da pele será que me dá
E que me sobe as faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo me faz implorar
O que não tem medida nem nunca terá
O que não tem remédio nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente que não devia
Que desacata a gente que é revelia
Que é feito aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos toda alquimia
Que nem todos os santos será que será
O que não tem descanso nem nunca terá
O que não tem cansaço nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro será que me dá
Que me perturba o sono será que me dá
Que todos os ardores me vem atiçar
Que todos os tremores me vem agitar
E todos os suores me vem encharcar
E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz suplicar
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem juízo

Monday, February 18, 2008

A Noite dos Palhaços Mudos

Tirinha do Larte...

Muito boa...

http://www2.uol.com.br/laerte/personagens/palhacos/parte1.html

Apresentando Aquiles...

Vou começar contando como Aquiles foi parar em Tróia. Mas pra isso é preciso um longo flashback até a ilha de Ítaca, para conhecermos outro herói, Ulisses, que foi responsável por buscar o jovem Aquiles em seu reino e convencê-lo a lutar.

Ulisses era rei de uma ilhazinha não muito importante, mas era considerado um cara foda. Era protegido pela deusa Atena ( que também pode ser chamada de Minerva, ou Palas Atena, ou simplemente Palas, para nós que somos intimos), e considerado um excelente orador, um grande embaixador. Era sempre enviado para tentar resolver as coisas com diplomacia. Quando o príncipe Troiano Páris, levou a bela Helena para viver com ele em Tróia, foi esse diplomático senhor que acompanhou o esposo abandonado, Menelau, até a cidade onde a esposa estava, para pedir amistosamente que o rei a devolvesse. Mas isso não aconteceu, é claro.

Assim, todos os reis gregos, unidos por uma promessa tola que fizeram a Menelau ( e que outro dia eu conto melhor), foram convocados para ir até lá e pagar a mulher ( e os tesouros que a mesma havia levado consigo) na marra. Alguns não tinham nada a ver com a promessa, o que é o caso de Aquiles, mas foram convocados do mesmo jeito.

Ulisses, que é considerado o "espertinho" da Grécia, resolveu , literalmente, se fazer de louco pra não ir à Guerra. Saiu semeando sal nas próprias terras. Mas a alcunha de "astuto Ulisses" não lhe valeu muito nessa hora. Foi logo desmacarado e obrigado a lutar.

Sua primeira missão: Trazer o jovem Aquiles para guerrear, pois sem ele as chances dos gregos diminuiam significativamente. O que nos faz imediatamente supor que o cara era o fodão da história. E era mesmo, mas não como você viu no cinema.

Se você, que assistiu Tróia, estiver pensando, "já vi esse filme, ele vai lá e convence o Brad Pitt porque o cara era um baita orgulhoso", está muito enganado. Porque não foi nada disso. Alias, foi bem mais engraçado.

Eu até deixarei que você imagine um Aquiles parecido com o Brad Pitt, pra facilitar, mas com algumas ressalvas. Imagine-o sim, louro, forte e cabeludo, mas, o mais importante, com seus 14 aninhos. Isso mesmo. Quando Aquiles foi convocado para a guerra, não tinha nem barba na cara.

Mas como assim? Ele não era o fodão? Você deve estar se perguntando e eu respondo. Era!

O cara é filho de uma deusa chamada Tétis, que o banhou no rio Estige para torná-lo invulnerável. Seu pai era Peleu, rei da Ftia, que era filho de Zeus. Deu pra entender? E tem mais, além de tudo foi educado pelo Centauro Quíron, que o ensinou, incluisve a lutar. E dizem que o garoto era tão psicipata desde cedo, que o centauro tinha que lembra-lo sempre que se ele o matasse acabava a brincadeira.

Quando os rumores de guerra começaram a se espalhar, Aquiles já era rei da Ftia, pois Peleu havia morrido. Suas armas haviam sido feitas pelo próprio Hefésto ( que a grosso modo é o deus do fogo e da forja), e dadas a seu pai no dia de suas bodas ( onde alias rolou uma treta que é a raíz de toda a encrenca- o episódio do pomo da discórdia- que eu conto outro dia).

Acontece que nenhuma mãe vai querer o filho de 14 anos na guerra, mesmo sabendo que ele é "o cara". Principalmente se existe uma predição que afirma que ele não vai voltar. Então ela resolveu esconder o cara no gineceu. Uma espécie de Colégio Católico pra Moças.

- Aquiles, você tem que vestir essas roupas e passar uns dias no Gineceu.
-Tá maluca mulher? Lá só tem menina e isso são roupas de menina.
-Não discute, você tem que ir e acabou.
- Eu não vou, sou o Rei da Ftia e não vou.
- Se você não for eu te coloco de castigo. Uma mês sem lança. Pior, uma semana sem matar ninguém!
- Poxa, aí é golpe baixo!

Então vai o mocinho se esconder. Agora, mesmo sendo tão jovem, imagine o guerreiro, vestido de mulher, de braços cruzados com a maior cara de quem tá puto.

Chegam Ulisses e outros gregos.

- Bela Rainha, gostariamos de falar com Aquiles, pode chamá-lo, por favor?
-Ah, infelizmente não vai dar.
-Como assim, não vai dar?
-É que não sei por onde ele anda. Saiu pra caçar e não voltou, há três dias.
- Como não voltou? Não estás preocupada?
-Porque deveria? Ele é Aquiles. Não é qualquer um. Além do mais, me disseram que ele estava na companhia de umas mulheres. Sabe como é, né, nessa idade é importante deixar livre.
- Mas e a guerra? A Grécia precisa dele!
-Que pena, não posso fazer nada.
-Então a gente vai esperar.
-(DROGA!!)

No dia seguinte as mocinhas brincavam no quintal do Gineceu.

- Vocês viram que loirinha esquisita aquela ali?
-É. Não se mistura com as outras e tem cara de psicopata.
Então, Ulisses fez jus à sua alcunha de astuto e resolve atacar o gineceu. E a menininha esquisita foi a primeira a pegar uma lança e partir pra cima de todo mundo.
-Calma Aquiles, somos todos gregos, foi só uma brincadeirinha.
-Ah, droga. Quando é que vou poder matar uma meia dúzia de inimigos?

Outra versão diz que Ulisses se vestiu de vendedor e no meio das jóias colocou espadas. Enquanto a mulherada enloquecia com brincos e tiaras, a menina esquisita queria comprar lanças e espadas.

E assim, o jovem Aquiles convoca seu exercito e parte com suas naus em direção à Tróia.

Mitologia Sem Frescura

Quando se está lendo Homero, o que no meu caso específico trata-se da Ilíada, acaba sendo necesário consultar frequentemente o Dicionário dos Mitos, ou algum amigo conhecedor do assunto, para entender algumas coisas. E o fato é que, quanto mais se sabe a respeito do Mitos Gregos, mais se quer saber. Como são mitos, as vezes são confusos, com mais de uma versão, umas mais outras menos aceitas. Como algumas histórias quando são adaptadas pro Cinema. Não é porque passou por Hollywood que virou verdade absoluta, embora algumas pessoas acreditem que é.

O que importa é que esses mitos são muito legais, dão margem à muitas leituras, e cheios de detalhes interessantes que muitas vezes são omitidos no resumo do livro da escola. Infelizmente passa sempre batido, ou fica erudito demais, sisudo demais. O que faz perder boa parte da graça, para muitas pessoas.

Sendo assim, depois de muitas conversas ( a maior parte conversa de boteco), apareceram algumas pérolas, algumas comparações ilustrativas que merecem uma série sobre os mitos, escrita de uma maneira, digamos que, mais leve. Enfim. Vamos ver o que sai.

Monday, February 04, 2008

Seleção Malvados






Nada como o humor dos Malvados para nos salvar do tédio Carnavalesco.

A Falência da Crítica de Arte

Falando essa semana com meu grande amigo e mestre Adelar Bazzanella, a respeito dos rumos tomados pela crítica de arte, recebi dele esse texto, que vai de encontro ao que tenho pensado a respeito há algum tempo.

Após ler o texto, fui dar uma espiada no blog de seu autor, Luciano Trigo, o Máquina de Escrever, onde encontrei mais um monte de coisas bem interessantes. Vale a pena a visita.

Segue o texto:

A falência da crítica de arte
[http://www.a-desk.org/07/imagenes/greenberg.jpg]
É mais ou menos consensual, mesmo entre os próprios artistas, que a crítica de arte perdeu relevância e poder. Isso não acontece só no Brasil: nos Estados Unidos, na Inglaterra e na França o tema já foi assunto de acalorados debates. É inimaginável o surgimento hoje de um Clement Greenberg (foto) ou um Harold Rosenberg, por exemplo, que exerceram uma influência decisiva no meio artítisco americano nas décadas de 50 a 70; ou, no Brasil, de um Mario Pedrosa, que ajudou a construir o nosso discurso crítico sobre o Modernismo. (Mesmo assim, Greenberg ainda é o crítico por antonomásia, o nome que se associa imediatamente à figura do crítico de arte, já que a produção contemporânea não gerou nenhum crítico relevante - Arthur Danto está comprometido demais com a tese do "fim da arte" para assumir esse papel).

Hoje, os próprios críticos remanescentes admitem que seu papel deixou de ser o de juízes para ser o de espectadores. E para quem sobrou a função de juiz? Ao curador. Os críticos trocaram o papel de mediação ativa que tiveram no passado pelo papel passivo de comentadores neutros, na periferia do sistema da arte. Com poucas exceções, isso se manifesta tanto na imprensa quanto na produção acadêmica, sendo que esta tem um agravante: o obscurantismo da linguagem, que dá um verniz de sofisticação e de inacessibilidade à falta de rigor e a incapacidade de se expressar claramente.

A verdadeira crítica incomoda: imaginem se um crítico tivesse hoje poder para desancar as imposturas de Damien Hirst: o que seria dos marchands e colecionadores que levaram suas obras a cotações estratosféricas? Nas medida em que a arte se sofisticou como investimento especulativo e dinheiro de verdade começou a fluir, ela não poderia estar mais sujeita a opiniões de especialistas que não estivessem comprometidos com o mercado, daí o esvaziamento estratégico da figura do crítico.

Os próprios interessados na valorização especulativa da arte roubaram para si o papel de identificar – ou simplesmente designar – novas tendências, novos nomes, novas obras. Ou seja: a pessoa que vende os ingressos para a exposição é a mesma que garante a sua qualidade, o que tem implicações óbvias. Além disso, os agentes do sistema da arte passam boa parte do tempo viajando (existem mais de 200 bienais no mundo), coisa que poquíssimos críticos têm condições de fazer - e isso se torna mais um pretexto para o curador roubar para si o papel da crítica. E quem contesta é desinformado, precisa viajar mais etc.


Chegamos num ponto em que, nos Estados Unidos, esses agentes do sistema visitam regularmente as exposições das escolas de arte, para eleger s gênios do futuro antes mesmo de eles se graduarem. Nesse contexto, um dos fundamentos da atividade crítica – a descoberta dos novos artistas e o estímulo à consolidação de suas carreiras – foi eliminado. Ou seja, o crítico não tem mais o poder de criar nem de destruir uma reputação – e, para o mercado, é ótimo que seja assim.

A crítica só persiste como encenação: o vazio de significados dos textos críticos reflete o vazio de importância dos próprios críticos. Basicamente, a atividade só sobrevive com a função de chancelar intelectual para uma produção determinada pelas redes do mercado: da mesma forma que um currículo de exposições no exterior, um corpo de textos elogiosos ajuda a conferir respeitabilidade às novas estrelas junto aos museus, colecionadores e o público em geral.

Alguém precisa escrever esses textos, é claro. E, como aparecer assinando textos que terão circulação internacional faz bem para o ego, não falta quem se disponha a escrever por encomenda, seja entre jornalistas, seja professores de História da Arte, duas profissões, como se sabe, mal remuneradas. O atrativo do circuito social da arte, com suas festas e rituais próprios, também tem seu peso, naturalmente. Para o crítico, como para o artista, é mais importante hoje a rede de relacionamentos e a cumplicidade com as regras do jogo do que o conhecimento técnico das antigas regras estéticas de seu ofício. Uns e outros refletem (no sentido de espelhar, não de pensar) acriticamente a mercantilização da esfera artística.

Além disso, perdeu-se o entendimento da crítica como um gênero literário. No passado esperava-se que um crítico soubesse escrever bem, que tivesse um estilo próprio e que fosse capaz de persuadir o leitor a acreditar na sua interpretação da obra analisada – e de fazê-lo refletir sobre o que vê. Não é casual que tantos críticos tenham sido também escritores, bastando citar Baudelaire. Hoje o crítico não está preocupado em atingir uma grande audiência, nem escreve mais para o leitor, mas para seus pares e para os outros agentes do sistema da arte – ou do sistema acadêmico, no caso dos textos universitários – que, no Brasil, nunca se caracterizaram pela clareza.

[http://www.artnet.com/magazine/features/saltz/Images/saltz10-2-4.jpg]

Na América, o crítico "conservador" (rótulo sempre aplicado com sentido pejorativo, e não apenas nas artes; empregando-o, um artista jovem que não sabe nada da vida fica à vontade para ignorar tudo o que tem a dizer um crítico como Robert Hughes, por exemplo, ou Ferreira Gullar - um e outro, como se sabe, reacionários e conservadores) Roger Kimball formulou isso da seguinte maneira: os críticos foram para a cama com a ideologia pós-moderna. Só assim é compreensível que eles legitimem obras tão diferentes como um tubarão cortado ao meio de Damien Hirst e as esculturas de chocolate (foto acima: cubos de uma tonelada, roídos nas bordas pela própria artista) de Janine Antoni, para só citar dois exemplos.


Para isso, a crítica precisa adotar critérios tão heterogêneos e disparatados quando as próprias obras de arte contemporâneas - ou copiar esses critérios dos press-releases das galerias e museus. Isso também ajuda e entender a resistência dos críticos a opinar, a ter uma atitude assertiva, a declarar se gostam ou não de uma obra, se ela é boa ou ruim. Apático e descafeinado, crítico passou a duvidar da própria autoridade - outra atitude tipicamente pós-moderna, e o próprio conceito de "qualidade" perdeu sua legitimidade, a partir dos anos 80. Assim o crítico se tornou um mero veículo para idéias do artista sobre seu próprio trabalho. Fazer um jugamento de valor seria reforçar antiquadas hierarquias de poder simbólico, é claro.

Por fim, até o Modernismo, a arte estava indo para algum lugar; foi assim que Clement Greenberg pôde, tendo ou não razão, interpretar a arte moderna como um processo histórico cuja lógica interna desembocou no expressionismo abstrato - e coerentemente, a questionar a "artisticidade" dos ready-mades de Marcel Duchamp e das paródias da Pop Art. Com o decreto pós-moderno do fim das grandes narrativas, os artistas perderam essa ambição de abrangência e passaram a se movimentar de forma errática, seguindo os fluxos do mercado com seus comentários neutros e modestos, caso a caso. Com isso se dissolveu a base para qualquer interpretação consistente da arte contemporânea. Em que valores se pode basear o julgamento de um cubo de chocolate ou de uma mesa de pingue-pongue coberta de cascas de ovo?

Agora Falando Sério




Falta de tempo, adaptação ao novo meio, produções e estudos complicados...é isso que faz a gente postar tudo rapidinho, aproveitar-se de um videozinho pra não perder muito tempo e deixar as imagens falarem mais que as mil palavras.

Mas tem horas que não dá, e as palavras, sejam mil, ou mais, se fazem necessárias.
Em minha coluna no site Tô Puto, com sua nova formatação, publiquei um texto sobre o 62° Salão Paranaense de Artes Plásticas. Não vou reproduzí-lo, mas está aí o link, a quem interessar possa.